A parábola de Jesus fala de imagens: um rico que se vestia
bem, comia bem, morava bem e um pobre que passava fome, estava cheio de
feridas e dormia na rua. Depois os dois morrem. Aí começa uma segunda história
que fala sobre a situação de cada um após a morte.
O rico e o Lázaro têm destinos diferentes. Para a cultura
da época, o rico deveria ter o melhor destino! Riqueza era (e às vezes ainda
é) considerada sinal da bênção e prêmio, e a pobreza era considerada
castigo de Deus. Na parábola, Jesus inverte tudo. O rico foi para o
"inferno", enquanto Lázaro foi diretamente para o "céu".
Lá do inferno, o rico vê Lázaro, e imediatamente pede a
Abraão que mande Lázaro aliviar seu sofrimento, sua sede atroz, nem que seja
"molhando a ponta do dedo na água". Aqui o texto mostra a atitude básica desse
rico. Mesmo no "inferno", sofrendo dores imensas, ele ainda continua
considerando a Lázaro como um serviçal, um ser inferior! Ele nem dirige a
palavra a Lázaro, não pede ajuda de Lázaro, mas quer que Abraão dê ordens a
Lázaro. Veja só, o preconceito contra os pobres ainda está na cabeça
daquele homem rico.
Com isso, o problema vai muito além da situação social: o
problema também está NA MENTE, na concepção de "pessoa" que o rico tem.
Deste modo, estão aí duas faces interligadas do problema.
Uma é a estrutura da sociedade que cria ricos e Lázaros. Outra é a
maneira de ver o outro, de ver aquele que não cabe dentro de "nossos
padrões".
Vejam só, ao contrário da parábola de Jesus, quem não tem
nome hoje são os pobres, os que não contam, os descartáveis. Por isso,
incendiar um índio ou um mendigo pode ser encarado como "brincadeira". Quem
enxerga no outro somente um objeto, distanciou-se do Reino de Deus e perdeu a
noção de dignidade e do valor da vida.
Cada pessoa foi criada à imagem e semelhança de Deus,
redimida por Cristo, por um grande preço, "o precioso sangue de Cristo".
Em Deus, não hé quem seja descartável, nem a criação, a
natureza e muito menos qualquer pessoa. Uma sociedade que crê poder descartar
a obra do Criador está se afastando dos planos de Deus. Anda na contra-mão da
providência divina.