"Quem é a Besta-fera?"
Apocalipse 13.1-18
UM FATO DA VIDA QUE FAZ PENSAR:
Nossos nomes estão nas listas do governo, dos bancos, do INSS, do crediário. Em nosso país, quem não tem documento não viaja. Quem não tem CPF não compra. Quem não é consumidor não conta. Quem não tem título de eleitor não vota. Quem não tem carteira de trabalho não consegue trabalho legal. Estamos todos fichados e controlados. À medida que passam os anos, cresce o controle. Quem não é consumidor registrado, não existe. A pequena empresa que não entra nun processo de "qualidade total" não é "globalizada". Daqui a pouco, quem não tem INTERNET não se comunica e não sabe das notícias mais importantes. As leis do país formam uma rede que, aos poucos, vai envolvendo todo o mundo. Parece um braço enorme que nos prende, amarra e ameaça. Ninguém escapa! - Ninguém??? As grandes empresas quase não pagam imposto de renda. As indústrias internacionais, que não precisam de ajuda, recebem incentivos fiscais da parte do governo. Tudo dentro da lei! Mas a verba para a saúde, educação e moradia é cada vez menor. O latifúndio é permitido e protegido por lei, é legal. Mas o MST é perseguido e despejado. Tudo de acordo com a lei, mas nem tudo é justo e legítimo!
UM TEXTO DA BÍBLIA QUE ILUMINA A VIDA: O texto que vamos ouvir é do Apocalipse. Ele traz uma análise da realidade daquela época, descrevendo a atividade da segunda besta-fera. A primeira besta (Ap 13.1-10) representa o império romano, onde cristãos eram perseguidos. A segunda, também chamada de "falso profeta" (Ap19.20), representa as pessoas e as instituições que colocam os seus recursos e suas qualidades a serviço do império. Durante a leitura, vamos prestar atenção nos vários aspectos da atividade desta segunda besta e como ela desumaniza a vida do povo: (Leitura do texto de Apocalipse 13.11-18) - Lembrar o que foi lido.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO:
UMA AJUDA PARA O GRUPO:
Chave para entender o texto bíblico: O capítulo 13 fala de duas bestas. A primeira (Ap 13.1-10), representa o império romano que governava o mundo e controlava tudo. A segunda (Ap 13.11-18), representa a ideologia que sustentava o império com a sua propaganda. Quem tem o poder precisa da propaganda que assegura sua ideologia. O império romano manipulava a opinião pública com PÃO e CIRCO. A segunda besta tem a aparência de um cordeiro, mas a sua voz de lobo revela que se tratava de um "falso profeta" (Ap 19.20) a serviço do império. E assim acontece até hoje!
O Apocalipse identifica a besta com o número 666, e diz que é "número de gente" (Ap13.18). Portanto, trata-se de GENTE, pessoa humana, que se comporta como beste, como animal! João, o autor do Apocalipse, está dizendo que uma pessoa humana, no caso, o imperador de Roma, adorado e venerado no mundo inteiro como um deus, na realidade não passa de um animal que desumanizava a vida dos povos! Sinal de muita coragem da parte de João!
E hoje, quem é a besta? - Muitas pessoas ou grupos criam a sua própria besta a partir de seus próprios medos. Cada um lê o Apocalipse conforme seu próprio entendimento e dele tira conclusões que nem sempre correspondem as sentido original do texto. Qual o sentido certo? - Quando se esquece que, no Apocalipse, a besta é gente, isto é, pessoa humana, que se comporta como animal (Ap 13.18), perde-se o critério principal para saber quem é a besta hoje, e chega-se, por vezes, a interpretações que não têm fundamento no texto da Bíblia, mas são mais fruto de preconceitos.
O Antigo Testamento diz que o rei Salomão, cada ano, arrecadava como imposto das tribos de Israel 666 talentos de ouro, o equivalente a 23 toneladas de ouro (1Rs 10.14)! Ora, o número 666 ocorre só duas vezes na Bíblia: Em 1Rs 10.14 e em Ap 13.18. Por isso, sem dúvida nenhuma, o Apocalipse, ao dizer que o número do imperador romano é 666, quer lembrar da péssima atuação de Salomão, que se enriquecia à custa dos camponeses pobres do interior da Palestina. - Cada época tem a sua besta. É o sistema que encarna o mal, entra na cabeça e no modo de pensar das pessoas e desumaniza a vida.
Outros textos da Bíblia como apoio e complemento: Os fariseus avisaram Jesus que Herodes queria matá-lo. Jesus não fica com medo, mas responde: "Vão dizer àquela raposa que fico aqui hoje, fico amanhã e só vou embora depois de amanhã!" (Lc 13.31). Ele deixa bem claro que ninguém neste mundo tira dele a liberdade de falar. A atitude de Jesus ajuda o povo a relativizar o poder dos grandes e a criar consciência da sua própria dignidade.
Este também é o significado do título de que Jesus mais gostava: Filho do homem. Este título vinha do livro de Daniel (Dn 7.1-14). Daniel apresenta os impérios da Babilônia, Média, Pérsia e Grécia com aparência de animal, de besta. São impérios animalescos que degradam e desumanizam a vida. Depois destes quatro impérios, vem o Reino de Deus, que tem a aparência não de um animal, mas sim de um "Filho de Homem", isto é, tem aparência de gente. É um reino humano que humaniza a vida. Jesus, ao assumir o título "Filho do Homem", está nos convidando a realizar um Reino humano. Ele mesmo vai na frente. Este reino não se baseia na força e na exploração, mas sim no SERVIÇO e na DOAÇÃO.
Jesus realiza a profecia do Filho do Homem e do Servo de Javé, anunciado pelo profeta Isaías (Is 42.1-9; 49.1-6; 50.4-9; 52.13-53.12). Ele é humano e servidor. Tão humano como só Deus pode ser humano. Tão servidor que chegou a definir sua vida dizendo: "Não vim para ser servido, mas para servir!" (Mt 20.28). HUMANIDADE e SERVIÇO são as duas qualidades que melhor combatem o orgulho e a prepotência da besta neoliberal. Ninguém neste mundo pode dizer que não dispõe de humanidade ou que não tem possibilidade de servir. Como diz o povo: Quem não vive para servir, não serve para viver!